Irã está próximo da bomba atômica, concluem os EUA


As agências de inteligência americanas concluíram nos últimos meses que o Irã criou combustível nuclear suficiente para um esforço rápido, porém arriscado, em busca de uma arma nuclear. Mas novos relatórios da inteligência entregues à Casa Branca dizem que o país parou deliberadamente pouco antes dos últimos passos críticos para produção de uma bomba.

No primeiro reconhecimento público das conclusões da inteligência, o embaixador americano na Agência Internacional de Energia Atômica declarou na quarta-feira que o Irã agora tinha o que ele chamou de "capacidade de possível avanço" caso decidisse enriquecer seu estoque de urânio, o convertendo em material para bomba.

Na quarta-feira 10, o Irã entregou aos representantes das grandes potências um novo pacote de propostas sobre seu programa nuclear, com o objetivo oficial de criar "uma nova oportunidade para discussões na perspectiva de uma cooperação mútua". Medida rechaçada pelos EUA


A declaração feita pelo embaixador, Glyn Davies, visava pressionar os aliados americanos a imporem sanções mais severas contra o Irã neste mês, talvez incluindo um corte do fornecimento de gasolina ao país, caso não aceite o convite do presidente Barack Obama para negociações sérias. Mas também poderia complicar os esforços do governo para persuadir um governo israelense cada vez mais impaciente a dar mais tempo para a diplomacia funcionar, e evitar um ataque militar contra as instalações do Irã.

Em entrevistas ao longo dos últimos dois meses, oficiais militares, membros da inteligência e funcionários do governo Obama disseram estar convencidos de que o Irã conseguiu um progresso significativo no enriquecimento de urânio, especialmente ao longo do ano passado.

O Irã sustenta que seu programa de enriquecimento em andamento tem fins pacíficos, que o urânio é apenas para geração de energia elétrica e que seus cientistas nunca pesquisaram projetos de armas. Mas em um anúncio de 2007, os Estados Unidos disseram ter encontrado evidência de que o Irã trabalhou em projetos para fabricação de uma ogiva, apesar de ter determinado que o projeto foi suspenso no final de 2003. A nova informação de inteligência coletada pelo governo Obama não encontrou evidência convincente de que o projeto foi retomado.

Não sabe quantos meses - ou mesmo anos - seriam necessários para o Irã concluir um projeto final e então construir uma ogiva adequada para o topo de seus mísseis de longo alcance. Essa questão é motivo de um sério debate nos bastidores entre os israelenses e altos funcionários da inteligência e oficiais militares americanos, que começou há quase dois anos e aumentou de intensidade nos últimos meses.

A posição americana é de que os Estados Unidos e seus aliados provavelmente teriam um considerável tempo de alerta caso o Irã buscasse converter seu crescente estoque de combustível nuclear pouco enriquecido para torná-lo utilizável em armas.

Apesar de haver pouca dúvida dentro do governo americano de que a meta final do Irã é criar capacidade de armas, há certo ceticismo sobre se um governo iraniano, já distraído pelas consequências da eleição presidencial contestada, daria um passo tão arriscado e quão rapidamente seria capaz de superar os obstáculos tecnológicos restantes.

Mas Israel extrai cenários mais sombrios a partir dos mesmos fatos. Em conversas confidenciais com os Estados Unidos, ele cita evidência de que o projeto foi retomado secretamente em 2005, a pedido do líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei. As autoridades americanas dizem que a evidência é circunstancial e apontam que os israelenses não apresentaram uma cópia da ordem que disseram ter sido dada por Khamenei.

"Nós todos estamos olhando para o mesmo conjunto de fatos", disse um alto membro da inteligência israelense, que, como outros entrevistados para este artigo, pediu anonimato devido à natureza sensível da coleta de inteligência. "Nós os estamos interpretando de forma muito diferente do que a Casa Branca."

No centro da disputa está a "capacidade de avanço" a qual Davies se referiu na quarta-feira, em sua primeira apresentação como embaixador da Agência Internacional de Energia Atômica, a agência de vigilância nuclear da ONU. A frase se refere à habilidade de uma nação não-nuclear de adquirir combustível e perícia suficiente para poder concluir a fabricação de uma bomba de fato de forma relativamente rápida.

Os israelenses argumentam que pode haver pouco ou nenhum tempo de alerta - especialmente se o Irã tiver instalações escondidas - e argumentam que após o Iraque, as agências de inteligência americanas estão cautelosas demais no levantamento da capacidade do Irã.

Como as autoridades americanas e israelenses esperavam, o Irã entregou aos países europeus na quarta-feira o que chamou de novo conjunto de "propostas" para negociações a respeito de seu programa nuclear. As autoridades americanas disseram que ainda não as leram, mas Susan E. Rice, a embaixadora americana na ONU, disse que a resposta iraniana deve ser "séria, substantiva e construtiva" para atender ao teste de Obama.

A Casa Branca deu ao Irã um prazo até o final de setembro para iniciar negociações substantivas, caso contrário enfrentará sanções adicionais.

Funcionários do governo estão debatendo se a liderança iraniana, que está enfrentando protestos violentos, está na prática paralisada quando se trata de negociar com o Ocidente - ou mesmo em determinar quão agressivamente avançar seu programa nuclear.

A Casa Branca torce para que sua oferta de negociar tenha desconcertado a liderança do Irã e aumentado sua credibilidade ao redor do mundo, caso o presidente comece a pressionar por sanções mais duras.

As atualizações de inteligência para Obama seguem as linhas gerais das conclusões apresentadas ao presidente George W. Bush em 2007, como parte da Avaliação Nacional de Inteligência de 140 páginas. Ela foi baseada em informações coletadas pelas agências de espionagem americanas que conseguiram penetrar nas redes de computadores das forças armadas do Irã, obtendo evidências surpreendentes de que o país suspendeu seu esforço de projetar armas quatro anos antes.

A avaliação oficial americana é de que o Irã poderia produzir uma arma nuclear entre 2010 e 2015, provavelmente mais tarde do que mais cedo. A estimativa oficial israelense é próxima: Meir Dagan, o diretor do Mossad, a principal agência de espionagem de Israel, disse ao Parlamento israelense, em junho, que a menos que uma ação seja tomada, o Irã teria sua primeira bomba em 2014, segundo uma reportagem no jornal israelense "Haaretz", que as autoridades israelenses confirmaram.

"Israel espera que a comunidade internacional impeça o Irã de obter capacidade nuclear militar", disse Michael Oren, o novo embaixador de Israel em Washington.

Apesar dos comentários públicos de Dagan, a maioria das autoridades israelenses acredita que o Irá poderia criar uma bomba muito mais rapidamente. Eles citam as evidências pouco claras que cercam dois programas secretos no Irã, chamados Projeto 110 e Projeto 111. Estes são nomes em código para o que acredita-se ser programas de desenvolvimento de Ogiva dirigidos por um acadêmico batizado Mohsen Fakrizadeh.

O Irã nunca autorizou Fakrizadeh a ser entrevistado. Mas inspetores internacionais mostraram vídeos e documentos que sugerem que o grupo de Fakrizadeh tem trabalhado em gatilhos nucleares, trajetórias de voo para os mísseis e detonação de uma ogiva a quase 600 metros acima do solo - o que sugeriria uma detonação nuclear. Na quarta-feira, o Irã repetiu sua afirmação de que estas evidências eram "mentirosas" e "fabricadas."

As autoridades israelenses dizem privativamente que o governo Obama está se iludindo em pensar que diplomacia persuadirá o Irã a abrir mão de seu programa nuclear. O governo Obama diz acreditar que o Irã está na defensiva - temeroso de mais sanções debilitantes e perturbado pela turbulência interna. Mas mesmo dentro da Casa Branca, alguns funcionários acreditam que o esforço diplomático de Obama será infrutífero.

Alguns funcionários do governo insistem que Israel está apresentando cenários de pior caso para "encurtar o prazo" para uma bomba iraniana, como forma de colocar pressão sobre o governo Obama. Mas outros funcionários reconhecem que a impaciência de Israel e as insinuações de uma ação militar são úteis, porque poderiam pressionar o governo iraniano a participar de negociações, com prazos reais.

Em um encontro com um importante membro do governo Obama meses atrás, as autoridades israelenses pressionaram por inteligência e outras ajudas que seriam necessárias para um ataque, segundo um funcionário com conhecimento da discussão.

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