Obama enxerga "passos positivos" no Oriente Médio


Na terça-feira (18), o presidente Barack Obama disse ter enxergado "um movimento na direção certa" no que diz respeito à espinhosa questão da construção de assentamentos israelenses nas áreas palestinas ocupadas, e o presidente do Egito, Hosni Mubarak, de visita à Casa Branca, afirmou que as perspectivas de um reinício das conversações de paz no Oriente Médio são boas.

Os comentários cautelosamente otimistas dos líderes coincidem com um sinal de que o governo israelense está tentando reduzir as tensões com os Estados Unidos no que se refere à questão dos assentamentos. Esse sinal manifestou-se na forma de um anúncio feito pelo ministro da Habitação de Israel de que o seu governo não deu a aprovação final para nenhum novo projeto de construção de residências na Cisjordânia desde que assumiu o poder no final de março.

Embora o gesto de Israel não afete as unidades habitacionais dos colonos que já se encontram em construção, ele permitiu pelo menos que os presidentes dos Estados Unidos e do Egito dissessem que têm esperanças de fazer com que as negociações de paz recomecem.

O governo Obama exigiu um congelamento de todas as construções de colonos israelenses nos territórios palestinos, afirmando que tal medida criaria um clima propício a um acordo de paz no Oriente Médio. O governo israelense conservador, liderado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, rejeitou a demanda, o que resultou em um desentendimento público incomum entre Israel e os Estados Unidos.

Falando após uma reunião no Salão Oval da Casa Branca, naquela que foi a primeira visita de Mubarak a Washington em cinco anos, Obama disse que criou-se um clima para "passos positivos" na região. "Tivemos uma conversa ampla sobre como poderíamos reativar um processo efetivo de todos os lados", disse o presidente norte-americano.

Mubarak disse, através de um intérprete, que apoia as tentativas dos Estados Unidos de alcançar uma paz duradoura, e especialmente as iniciativas para fazer com que israelenses e palestinos "sentem-se juntos e para obter algo da parte israelense e algo da parte palestina".

"Se conseguirmos, quem sabe, que eles se sentem juntos, nós ajudaremos", afirmou Mubarak. Em um outro momento, em uma alusão à retomada geral das conversações de paz, ele praticamente ecoou as observações de Obama, afirmando: "Estamos nos movimentando na direção correta".

Embora ambos os presidentes tenham apresentando palavras positivas, não ficou claro neste encontro se Mubarak concordou com medidas concretas para a melhoria das relações com Israel - algo que o governo Obama tem pedido a todos os vizinhos árabes dos israelenses como forma de reiniciar o processo de paz.

O governo dos Estados Unidos tem pressionado os Estados árabes moderados para que estes adotem medidas que aumentem a confiança entre as partes, incluindo a concessão de direitos de sobrevoo por parte de aeronaves civis israelenses, o aumento da cooperação cultural e a permissão para que Israel abra escritórios de interesse em embaixadas estrangeiras no exterior.

Alguns países árabes, especialmente a Arábia Saudita, rejeitaram publicamente tais medidas, embora autoridades governamentais dos Estados Unidos insistam que, reservadamente, os sauditas têm se mostrado mais receptivos.

A reunião entre os dois presidentes, a terceira do gênero, foi marcada por uma cordialidade que esteve notoriamente inexistente entre Mubarak e o presidente George W. Bush, que irritou o líder egípcio ao pressioná-lo para que suavizasse o seu regime autoritário.

Em forte contraste com a relação fria com Bush, Mubarak disse que Obama "removeu todas as dúvidas existentes entre os Estados Unidos e o mundo muçulmano", com o seu discurso "grandioso e fantástico" proferido em junho, no Cairo.

Em Jerusalém, horas antes da reunião no Salão Oval, o ministro da Habitação de Israel, Ariel Atias, e outras autoridades enfatizaram que o hiato na publicação de licitações governamentais para novos projetos de construção nos territórios palestinos ocupados não se constitui em um congelamento formal dos assentamentos. De fato, alguns projetos de construção estão continuando nos assentamentos, sendo que há até 2.500 unidades habitacionais em construção em projetos de colonização que já haviam sido aprovados.

O encontro entre Obama e Mubarak foi acompanhado por especulações sobre o futuro do presidente egípcio, algo de inevitável neste momento em que ele está com 81 anos e, segundo alguns relatos, encontra-se emocionalmente arrasado devido à morte súbita em maio do seu neto de 12 anos, Mohammed, o que provocou um atraso da sua visita a Washington.

Mubarak está no poder há quase 28 anos, e há especulações crescentes sobre uma possível sucessão no Egito, alimentada em parte por uma recente ação governamental repressiva contra a Irmandade Muçulmana, um grupo islamita que encontra-se legalmente banido no país, mas que é tolerado, chegando até a contar com uma representação no parlamento.

Obama disse que o Egito está "unicamente posicionado de certas maneiras" no processo de busca de paz no Oriente Médio, já que possui relações fortes com Israel bem como com os palestinos e outros Estados árabes. "Todos terão que tomar medidas, todos precisarão assumir certos riscos", afirmou Obama.

Porta-vozes egípcios disseram anteriormente que Mubarak deveria expor a perspectiva árabe: a confiança pode ser construída, acima de tudo, se Israel congelar os assentamentos; mas ele afirmou também que Israel precisa melhorar as condições de vida na Cisjordânia, reduzir as pressões sobre a Faixa de Gaza e concordar em negociar todos os assuntos que estão sobre a mesa, incluindo o status final de Jerusalém.

O governo de Netanyahu, citando acordos firmados entre Israel e o governo Bush, está tentando negociar novos entendimentos que permitiriam que ele desse continuidade à construção limitada em assentamentos judaicos já existentes nos territórios ocupados. Netanyahu enfrenta uma intensa pressão política do seu partido Likud e dos seus parceiros de linha dura para que não permita um congelamento das construções.

"Não existe congelamento algum", disse Atias, o ministro israelense da Habitação, em uma entrevista à Rádio Israel. E o gabinete de Netanyahu divulgou uma declaração negando uma notícia publicada na mídia israelense na terça-feira de que o primeiro-ministro, o ministro da Habitação e o ministro da Defesa, Ehud Barak, teriam concordado em congelar a construção de assentamentos em territórios palestinos até o início de 2010.

"Não há, nem nunca houve, nenhum acordo" para o congelamento das construções na Cisjordânia, disse a declaração.

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